“Obrigado, D. Rosa”
Gotas Olímpicas
Por: Ricardo de Moura
Data: 11/OUT/2023
Tudo começou por “acaso”. A tia da menina, que era funcionária pública, teve que cobrir a licença de uma outra pessoa que trabalhava no ginásio da cidade de Guarulhos.
Na semana em que a tia começou a trabalhar por lá, estavam abertas as inscrições para testes de novos atletas no projeto social Iniciação Esportiva, da Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Ela, então, levou Rebeca Andrade, na época com 4 anos, para se inscrever. Foi nesse dia de teste que ela levou o apelido de ‘Daianinha’.
A seguir, Rebeca passou a treinar com Mônica Barroso dos Anjos, técnica da equipe de ginástica de Guarulhos e árbitra internacional. Foi ela quem descobriu Rebeca na Iniciação Esportiva. Mônica treinou a jovem por um ano e meio.
Rosa, mãe de Rebeca e mais 6 filhos, contou que não foi nada fácil.
Teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Os treinadores de Rebeca criaram um esquema de rodízio para levá-la até o local e a Prefeitura de Guarulhos disponibilizou uma espécie de bilhete único para que os atletas frequentassem os treinos, porém, quando o valor disponível no cartão acabava, demorava muito tempo para cair a recarga novamente.
O irmão de Rebeca, Emerson Rodrigues, então, comprou uma bicicleta, em uma fábrica de reciclagem, para levar e buscar a atleta nos treinos. Ela tinha entre 6 e 7 anos, e ele, cerca de 15.
A mãe de Rebeca, Rosa, conta que muitas pessoas ajudaram a família a pagar a condução para que a jovem não deixasse de treinar em Guarulhos.
Após muita luta, Rebeca foi contratada pelo Flamengo e, junto com Keli Kitaura, se mudou para o Rio de Janeiro.
Rebeca logo foi apontada como uma promessa. Só que as lesões começaram a surgir ainda na base. Faltou às Olimpíadas da Juventude de Nanquim, em 2014, por conta de uma cirurgia no pé. Pouco antes do Pan de 2015, acabou rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho direito ao aterrissar ainda girando em um salto durante um treino. A cirurgia era inevitável, e oito meses de uma recuperação dura. Rebeca temeu não se recuperar mais, ganhou peso e por vezes perdeu a motivação.
Voltou a ligar para a mãe e falar que iria desistir. Dona Rosa deu uma bronca, não deixou a filha abandonar a ginástica sem tentar.
Obrigado, D. Rosa!
Rebeca, hoje é a maior realidade da ginástica brasileira. Campeã olímpica (1 de ouro e 1 de prata), Campeã Mundial (3 de ouro, 4 de prata e 2 de bronze), Campeã da Copa do Mundo (7 de ouro, 8 de prata e 3 de bronze).
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Ricardo de Moura
Gestor esportivo com mais de 40 anos de experiência em Projetos Esportivos.
Supervisor/Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por 28 anos.
Participou de 7 edições dos Jogos Olímpicos, 7 edições de Jogos Pan-americanos e 25 Campeonatos Mundiais. Responsável por projetos que levaram à conquista de 10 medalhas olímpicas na natação. Integrante do Comitê Técnico de Natação da Federação Internacional de Natação por 12 anos.
Secretário-tesoureiro da Confederação Sul-americana de Natação.
Professor do Curso Avançado de Gestão Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro de 2009 a 2017.
Escritor do livro “Gotas Olímpicas” – 2022.
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