Erros que se repetem
Gotas Olímpicas
Por: Ricardo de Moura
Data: 23/NOV/2023
Um dos grandes problemas enfrentados nas classes de base, é o elogio excessivo.
Sem nenhum tipo de demérito, grande parte do resultado, por exemplo, no Campeonato Brasileiro Infantil, vem do desequilíbrio biológico entre as crianças. Cada um deles está em um nível de maturação. Incontrolável. Natural.
Aqueles com maturação mais avançada, com parâmetros de força e potência mais desenvolvidos, alcançarão melhores resultados.
Muitos deles apresentam resultados nessa fase, mas poderão enfrentar dificuldades quando essa diferença de maturação não mais existir, nas classes futuras. Tem outros, que por uma habilidade e talento muito diferenciados, continuarão evoluindo. Não há uma regra básica. É momento.
Os resultados e os recordes são relativos. Difícil explicar isso aos pais, alguns técnicos, dirigentes e comunidade em geral.
Mais fácil assimilar a cultura do futebol: venceu é bestial, perdeu é uma besta.
Isso tem séria influência na molecada.
Aí entra a figura do técnico e das pessoas com mais experiência. Entra, também, a estratégia das reuniões com os pais, na educação de nunca desistir. De continuar se dedicando, trabalhando, aprendendo, evoluindo. Levar esse conceito do esporte para a vida.
Um estudo avaliou 565 crianças holandesas com idades entre 7 e 12 anos quanto a tendências narcisistas, como sentimentos de superioridade e auto-satisfação. Os investigadores questionaram os pais das crianças sobre como, quando e com que frequência ofereciam elogios e outros comentários.
As crianças cujos pais lhes disseram consistentemente que eram superiores às outras crianças, não importa o que acontecesse, obtiveram pontuações mais altas nas medições de narcisismo em comparação com as crianças que tiveram uma visão mais realista de si mesmas, descobriram os investigadores. Isso porque elogiar excessivamente as crianças pode levá-las a acreditar que são pessoas especiais e que merecem tratamento especial o tempo todo, explicou Brad Bushman, professor de comunicação e psicologia da Universidade Estadual de Ohio e um dos autores do estudo.
Além disso, quando alguém afirma que um nadador de classe infantil é “fantástico”, ou que o resultado obtido é “histórico”, “surreal” e coisas parecidas, que adjetivos serão colocados para Michael Phelps, Mark Spitz e tantos outros lendários?
Já tivemos vários nadadores que, nessa faixa etária, foram considerados melhores do mundo e não conseguiram, nem mesmo, participar de Mundiais ou Jogos Olímpicos.
#natacao #infantil #Elogio #excesso
Ricardo de Moura
Gestor esportivo com mais de 40 anos de experiência em Projetos Esportivos.
Supervisor/Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por 28 anos.
Participou de 7 edições dos Jogos Olímpicos, 7 edições de Jogos Pan-americanos e 25 Campeonatos Mundiais. Responsável por projetos que levaram à conquista de 10 medalhas olímpicas na natação. Integrante do Comitê Técnico de Natação da Federação Internacional de Natação por 12 anos.
Secretário-tesoureiro da Confederação Sul-americana de Natação.
Professor do Curso Avançado de Gestão Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro de 2009 a 2017.
Escritor do livro “Gotas Olímpicas” – 2022.
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