Uma criança é uma criança...
Gotas Olímpicas
Por: Ricardo de Moura
Data: 19/Out/2024
Todos os técnicos de natação querem que seus nadadores atinjam os melhores resultados que puderem.
Isso não evita, em muitos casos, um certo conflito entre pais e técnicos. Cada um deles enxerga um caminho diferente para o nadador.
Os pais, ao observarem que seus filhos de tenra idade, com habilidades, são mais rápidos que a maioria dos colegas de turma, gostariam que seus filhos estivessem em grupos mais avançados de idade.
Um bom treinador reconhece a relevância do desenvolvimento a longo prazo dos jovens nadadores. É essencial adotar uma abordagem paciente, visando manter os atletas no programa até a maturidade, para poderem aproveitar ao máximo suas valências físicas, evolução técnica e biológica e experiências.
Os pais, mesmo bem-intencionados, às vezes pressionam os filhos em ascensão a se destacarem muito cedo a qualquer custo. E esse custo, quase sempre, é não terminar a longo prazo.
Um estudo americano (ASCA) mostrou que apenas 17 a 20% dos nadadores de 9 a 10 anos classificados entre os 16 melhores continuaram nadando ao nível nacional 5 anos depois. E que, da lista dos 100 melhores de todos os tempos, apenas 11% dos 10 mais bem classificados continuavam entre os melhores de 17 a 18 anos.
Ao passar uma criança para uma faixa etária maior, pode ocorrer, entre outras coisas:
1- Afastamento de seus amigos (uma das principais razões para manter no esporte).
2- Inibe a forma espontânea de ser de uma criança e de ser líder de um mesmo grupo etário (eles estão com nadadores mais velhos que geralmente não compartilham as mesmas características).
3- Coloca uma pressão maior sobre a criança.
4- Acelera a progressão do nadador para um programa que ele pode não ser capaz de lidar física e emocionalmente.
5- Modifica o foco do técnico.
6- Identificar a criança, precocemente, como um “talento” cria uma pressão tremenda para viver com isso.
Nem pais, nem técnicos podem FAZER uma criança ser um ótimo nadador. Só se fornece um bom ambiente, o suporte emocional adequado (pais) e desafios (treinamento) em um programa progressivo bem elaborado, visando o desenvolvimento de longo prazo da criança (treinamento).
Uma criança talentosa continua sendo UMA CRIANÇA.
Palavras chave: Natação; Criança; Talento; Futuro.
Ricardo de Moura
Gestor esportivo com mais de 40 anos de experiência em Projetos Esportivos.
Supervisor/Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por 28 anos.
Participou de 7 edições dos Jogos Olímpicos, 7 edições de Jogos Pan-americanos e 25 Campeonatos Mundiais. Responsável por projetos que levaram à conquista de 10 medalhas olímpicas na natação. Integrante do Comitê Técnico de Natação da Federação Internacional de Natação por 12 anos.
Secretário-tesoureiro da Confederação Sul-americana de Natação.
Professor do Curso Avançado de Gestão Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro de 2009 a 2017.
Escritor do livro “Gotas Olímpicas” – 2022.
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