Boicote hipócrita
Data: 29/JAN/2022
Por: Ricardo de Moura
Ainda sob a influência da pandemia de COVID, os Jogos Olímpicos de Inverno acontecem em Beijing (China) de 4 a 20 de fevereiro.
Cerca de 3.000 atletas competindo em 109 eventos diferentes.
Os Jogos Paralímpicos de Inverno acontecem de 4 a 13 de março, com 736 competidores em 78 eventos.
O governo e as empresas da China estão gastando US$ 3,9 bilhões nos Jogos.
Em 2 de novembro de 2021 a estrela chinesa do tênis Peng Shuai acusou publicamente em suas redes sociais o antigo vice-primeiro-ministro chinês Zhang Gaoli de agressão sexual.
A partir daí, a atleta desapareceu e houve a resposta imediata das autoridades chinesas na tentativa de abafar e censurar a alegação de Peng Shuai.
Quando Shuai reapareceu, as declarações já não eram tão contundentes.
O mundo ficou dividido na reação.
Alguns atacaram os “abusos e atrocidades dos direitos humanos da China”.
Outros, como EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália, Lituânia e Kosovo declararam boicote diplomático aos Jogos.
Esses países enviarão atletas para competir, mas sem a presença de nenhum ministro ou alto funcionário.
A China acusou os EUA de usar os Jogos para manipulação política e prometeu “contramedidas resolutas”.
O impacto do movimento diminuiu muito quando a Itália e a França se recusaram a participar do boicote. Macron, presidente da França, descreveu o boicote como “simbólico e insignificante”.
Certamente fará pouquíssima diferença no espetáculo do evento para quem está no local ou assistindo de longe.
Piorou quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) disse que respeita a decisão dos Estados Unidos de boicotar diplomaticamente os próximos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, ao mesmo tempo em que defende sua “diplomacia silenciosa” ao lidar com o caso da tenista chinesa Peng Shuai.
Ou seja, boicote hipócrita.
Uns fingem que batem, o outro finge que apanha. E a vida segue da mesma forma.
Poucos têm coragem de confrontar a China.
Medo da retaliação comercial.
Em 2020, a China foi o maior exportador do mundo (US $ 2,49 trilhões, ou 13,3% do total mundial). Na soma de bens e serviços exportados, chega a US $ 2,64 trilhões, passando por pouco dos Estados Unidos, que exportou US $ 2,49 trilhões.
“Tudo que acontece na China tem um impacto porque é o segundo maior importador do mundo. Os efeitos serão sentidos nas commodities como petróleo, soja, proteínas e minério”, explica o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Nenhum dos boicotes anteriores aos Jogos Olímpicos fez surgir o efeito desejado.
Muito menos esse.
Hipocrisia.
A omissão, o vacilo, a lentidão e as decisões equivocadas com que os órgãos responsáveis pelo esporte tratam assuntos polêmicos transformam as situações em barris de pólvora.
Através da visibilidade do esporte, os atletas podem se aproveitar da liberdade concedida pelo COI que decidiu permitir que os atletas expressem suas opiniões políticas nas zonas mistas ou em redes sociais, além dos locais de competição onde poderão se manifestar antes do início das competições desde que não sejam atos contrários aos “princípios fundamentais do olimpismo”, que visam contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, e assegurar a prática esportiva como um direito de todos.
Apesar da flexibilização na Carta Olímpica, o presidente da entidade, Thomas Bach, reforçou que os atos estão expressamente proibidos nos momentos de pódio. “O pódio e as cerimônias de medalha não são feitos para uma manifestação política ou qualquer outra. Ele é feito para homenagear os atletas e os vencedores de medalhas por conquistas esportivas e não por suas visões particulares”. (Financial Times)
O mundo vive momento de crescentes movimentos sociais e políticos. O esporte ainda oferece grande visibilidade. A conferir.
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