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A capoeira pode ser olímpica?

Data: 17/mar/2022

Por: Rômulo Reis e Vicente Ambrósio

Sinônimo de brasilidade, cultura e malandragem a capoeira é encontrada nos mais diversificados espaços da sociedade tais como: academias de ginastica, escolas, companhias de teatro e de shows, teatros, spas, praças, projetos sociais, cruzeiros, universidades e no MMA. Como dizem os capoeiras “deu volta ao mundo” conquistando adeptos em todos cantos, atingindo seu auge com reconhecimento como patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, no ano de 2014. Todavia, existe um espaço que a capoeira ainda não conquistou, os Jogos Olímpicos.

Então, a capoeira pode ser uma modalidade olímpica? Segundo as normas do Comitê Olímpico Internacional – COI, um esporte para ser considerado olímpico deve ser praticado em 75 países para o masculino, e 40 países para o feminino, estando em no mínimo três continentes. Itens básico que a capoeira possui com sobra, sendo praticada em mais de 150 países por homens, mulheres e crianças, presente nos cinco continentes.

Além desses, o esporte precisa ter atratividade dos veículos de comunicação, ter relação com o país sede (oportunidade não conquistada em 2016), acrescentar valor para população, ter apelo com a juventude, igualdade de gênero, ter baixos custos operacionais e regido por uma federação internacional que seja o núcleo da modalidade. Contudo, mesmo cumprindo esses requisitos existe a premissa de que um esporte só pode entrar no programa dos Jogos Olímpicos caso outro saia.

Então, o que pode ser feito? Um recurso seria se organizar melhor tornando-se um esporte mais atrativo e firmando-se como um modalidade competitiva. Neste sentido, houve uma tentativa da Federação Internacional e Capoeira – FICA fundada em 1999 com sede em Atibaia no Estado de São Paulo. A FICA integrava 38 federações nacionais, realizou três fóruns mundiais para discutir parâmetros técnicos, culturais, administrativos, desportivos e educacionais, conseguiu estabelecer um dia mundial para capoeira (05 de julho), mas não está mais em atividade.

Por outro lado, a Federação Internacional de Capoeira – WCF, fundada no 3º Fórum Mundial de Capoeira ocorrido em Baku, no Azerbaijão em 2011, unificou as instituições envolvidas com a capoeira. Com sede na Estônia, seu objetivo é promover a capoeira como esporte mundial, se intitula como o único instituto internacional de capoeira que organiza eventos em todo mundo.

O trabalho da WCF tem permeado ações de organização de campeonatos mundiais com medalhas, eventos de capoeira na Europa, promoção de cursos de capacitação para árbitros internacionais e qualificação em capoeira coaching, ranking próprio por categorias de acordo com peso e gênero, desenvolvimento de regulamentações para campeonatos e arbitragem.

A opção seguida pela WCF está em conduzir a competição da capoeira pelo contexto do seu jogo com habilidade, destreza e ritmo dos participantes, afinal seria um tanto estranho assistir um jogo de capoeira robotizado com jogadores dotados de protetores individuais como no boxe e o taekwondo. Há também a preocupação em não descaracterizar a faceta luta, porém, evitando a violência direta, assim, as rasteiras e golpes desiquilibrantes com técnica estão inclusos e são permitidos.

Entretanto, a capoeira ainda esbarra em seus próprios dilemas. Mesmo com ações dessa natureza ainda não é possível encontrar uniformidade na nomenclatura de golpes e movimentos; nos estilos e formas de jogo; nos toques de berimbau seguidos; na simples maneira de organizar os instrumentos na roda. As graduações são com cordas, cordéis, cordões de diferentes tipos, tamanhos e cores, sem falarmos nos termos usados para classificar os títulos obtidos. As escolas defendem suas próprias bandeiras, realizam competições e festivais internos, há tensões e rivalidades comuns em qualquer luta, contudo, tal conjectura fortalece a individualidade e enfraquece o coletivo.

Não é uma crítica a comunidade da capoeira, mas esta composição foi uma maneira que encontrada para o desenvolvimento da capoeira que aos poucos foi se organizando com escolas, grupos, constituindo entendimentos, normas, tradições diferentes, surgindo mestres, novos discípulos, fazendo com que se tornasse um fenômeno sociocultural que a fizeram chegar aonde está.

Talvez a união entre os capoeiras e uma padronização para solidificar uma esportivização seja um recurso para dar mais sustentabilidade e elegibilidade para a capoeira tornar-se oficialmente um esporte dos Jogos Olímpicos.

Prof RÔmulo Reis

Prof. Rômulo Reis
Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Mestre em Ciências do Exercício e do Esporte, Especialista em Administração e Marketing Esportivo pela Universidade Gama Filho. Graduado em Capoeira, Educação Física e Administração de Empresas. Gestor Esportivo no Departamento de Competições da Confederação Brasileira de Futebol. Oficial de Integridade da CBF. Membro de Grupo de Trabalho do Ministério do Esporte para aprimoramento de laudos técnicos e melhorias em Estádios de Futebol. Professor no Curso Superior Tecnólogo em Gestão Desportiva e do Lazer da FACHA. Professor Pós-Graduação em Ciências do Futebol da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Líder do Grupo de Pesquisa em Grupo de em Esporte, Gestão, Cultura e Lazer (GPEG) e integrante do Grupo de pesquisa em Escola, Esporte e Cultura (GPEEsC), ambos cadastrados junto ao CNPq. Contramestre de Capoeira, no Grupo Cia. Capoeira. Oficial do Temporário do Exército sendo Oficial de Treinamento Físico Militar trabalhando com preparação física, competições esportivas: Vôlei, Futebol, Pentatlo, Tiro e Equitação), aulas e eventos de capoeira.

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Prof. Vicente Ambrósio
Mestre em Administração de Empresas pelo IBMEC-RJ, com pesquisa em Planejamento Estratégico de Marketing Esportivo de Confederações; Especialista em Marketing Estratégico (Fac. Estácio de Sá – Juiz de Fora – MG) e Marketing de Serviços (ESPM-RJ); graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. Ao longo de 20 anos acumulou significativas experiências nas áreas de Planejamento e Gestão de Operações, Gestão da Qualidade, Recursos Humanos, Marketing e Comercial, em projetos de organizações na indústria, comércio e serviços. Nos últimos 8 anos tem se dedicado à indústria do esporte, atuando na área de Ticketing em grandes eventos como, Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014), Jogos Olímpicos e Paralímpicos (2016), Copa América (2019) e Copa do Mundo Sub-17 (2019). Além disso, atua em pesquisas e projetos de consultoria na área de governança e gestão do esporte. Na área acadêmica, é Professor de Graduação no curso de Gestão Desportiva e de Lazer das Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), tendo atuado também no programa de MBA em Marketing Esportivo do IBMEC-RJ e outros cursos relacionados ao mercado esportivo. Palestrante de gestão do esporte em cursos de graduação e pós-graduação, bem como em eventos acadêmicos.

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O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

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