Campeonato das conveniências
Data: 15/mai/2023
Por: Ricardo de Moura
Recebo do amigo Carlos Freitas duas situações com informações e críticas do esporte que, a princípio, parecem distintas. Mas não são.
As duas vêm de Portugal. A primeira, de um senhor chamado Gustavo Pires, com críticas sobre as verbas brasileiras no esporte olímpico. Pires julga ser descabida a aplicação da verba em função da “criação de um estado dentro de outro estado”, criando um cenário diferente do país para o esporte com dinheiro do contribuinte.
A segunda é uma reportagem do jornal Record: “Fundo FIFA apoia 61 jogadores que estão sem salário em Portugal”.
As duas referem-se, no fundo, a uma questão de gestão. Sempre a gestão. E, para não variar, as pessoas julgam o que estão a ver, sem questionar as razões.
Lembro ao Sr. Gustavo Pires que investimento em esporte não é uma coisa simples. E traz retorno importante à sociedade: saúde, sociabilização, inclusão social…
E que essa questão, também foi levantada pelo atual presidente da Federação Portuguesa de Natação, Antonio Silva, em reportagem de 23 de abril de 2023, quando questiona o aumento de somente 4% no financiamento público às atividades regulares das federações esportivas para 2023.
Sr. Pires, não há programa perfeito. Não é questão de um mundo paralelo, mas de um programa que invista mais na base do esporte brasileiro. O esporte representa 2% do PIB do Brasil e no mundo, se fosse um país, a indústria esportiva estaria entre as dez maiores economias do planeta. Além de gerar empregos e movimentar consideravelmente a economia global, colabora para uma sociedade mais saudável: segundo estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) para cada $1,00 investido no esporte o país economiza $3,00 de gasto com saúde.
O desenvolvimento dos atletas que defendem o Brasil em grandes eventos esportivos conta com uma série de instrumentos federais considerados fundamentais, sendo o governo federal o principal patrocinador. São três as fontes de financiamento: Lei das Loterias, Bolsa Atleta e Lei de Incentivo ao Esporte.
Quanto aos atletas de futebol que estão com problemas de recebimento de salários, não li na reportagem nenhum fato que cobrasse as instituições que devem aos atletas. Na verdade, os dirigentes das federações fazem “vista grossa” aos problemas enfrentados pelos clubes. Não atuam na origem desses problemas.
Deixam chegar à insolvência.
Não pagou salários? Não joga. Apresenta dívida? Não joga. É reincidente? Desce de divisão.
Deixam arrebentar por conveniência. No fundo, são eleitores deles…
Divulgação ISE – Reprodução autorizada pelo autor
O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do autor.