O fax e a medalha de ouro
Gotas Olímpicas
Por: Ricardo de Moura
Data: 22/FEV/2024
Com a discussão sobre Inteligência Artificial no esporte, lembrei-me de um fato que julgo interessante.
Fred Deburghgraeve (BEL), com 23 anos, ganhou a medalha de ouro nos 100m nado peito nos Jogos Olímpicos de 1996 (Atlanta), ganhando a primeira medalha de ouro olímpica de natação da Bélgica no dia de abertura da competição no Centro Aquático Georgia Tech.
Com o tempo de 1,00,60, ele estabelecia um novo recorde mundial.
A medalha de Deburghgraeve foi a primeira na natação da Bélgica em 12 anos e a primeira em uma prova masculina desde 1924.
Nos Jogos de 1992 em Barcelona, Deburghgraeve, com 19 anos, escorregou na saída da prova, não conseguiu se recuperar e terminou em 34º com 1m05s10.
Profundamente desapontado, ele parou de nadar.
Deburghgraeve voltou aos treinos seis meses depois, apoiado pela Federação Belga de Natação. As autoridades belgas ofereceram-lhe uma bolsa que lhe permitiu abandonar o emprego num restaurante e treinar o tempo inteiro.
Ele ficou em quarto lugar no Campeonato Europeu de 1993, em terceiro no Campeonato Mundial de 1994 e terminou em primeiro no Campeonato Europeu de 1995 com 1:01,12, então, o segundo tempo mais rápido da história, atrás de 1:00,95 de Karoly Guttler (HUN), em 1993.
Em Atlanta, em 1996, por um acaso, eu estava passando pela Sala de Conferência de Imprensa, durante os Jogos, e entrei para ouvir a entrevista de Fred, após a vitória.
Deburghgraeve afirmou que treinava sozinho em Roeselare, com seu pai supervisionando os treinos. Recebia os treinos via telefone e Fax de seu treinador, Ronald Gaastra, que morava a 130 quilômetros de distância.
Ele disse ainda que não se importava com seu isolamento e que não havia segredo para o sucesso.
A prática da utilização do Fax para envio de treinamento já existia em casos isolados. Mas foi, talvez, publicamente, pela primeira vez que era informado do auxílio dessa ferramenta na conquista de uma medalha de ouro.
E, hoje, discutimos a Inteligência Artificial nos esportes. Tudo muito rápido.
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Ricardo de Moura
Gestor esportivo com mais de 40 anos de experiência em Projetos Esportivos.
Supervisor/Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por 28 anos.
Participou de 7 edições dos Jogos Olímpicos, 7 edições de Jogos Pan-americanos e 25 Campeonatos Mundiais. Responsável por projetos que levaram à conquista de 10 medalhas olímpicas na natação. Integrante do Comitê Técnico de Natação da Federação Internacional de Natação por 12 anos.
Secretário-tesoureiro da Confederação Sul-americana de Natação.
Professor do Curso Avançado de Gestão Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro de 2009 a 2017.
Escritor do livro “Gotas Olímpicas” – 2022.
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