Boicote à inteligência
Gotas Olímpicas
Por: Ricardo de Moura
Data: 20/MAR/2024
Em março de 1980, o presidente Jimmy Carter anunciou o boicote dos Estados Unidos aos Jogos Olímpicos em Moscou, devido à invasão soviética do Afeganistão.
O boicote foi acompanhado por outras medidas, entre elas um embargo de grãos. Grã-Bretanha e Austrália apoiaram inicialmente, mas participaram.
Em retaliação, a União Soviética boicotou os Jogos de Los Angeles em 1984.
Treze nações comunistas seguiram o exemplo, recusando-se a participar dos jogos. As nações que boicotaram organizaram um evento paralelo, os Jogos da Amizade, no verão de 1984 (2 de julho e 16 de setembro de 1984 na União Soviética e em oito outros estados socialistas).
Os boicotes não atingiram seus objetivos políticos, serviram somente para alimentar o ego dos dirigentes, o Comitê Olímpico Internacional assistiu passivo e quem perdeu foram os atletas que não puderam atingir a glória de serem campeões olímpicos. Quatro anos de treinamento jogados fora.
Em meio à guerra em curso na Ucrânia, o COI anunciou em dezembro que os atletas russos e bielorrussos só seriam elegíveis para competir como atletas individuais neutros nos Jogos de Paris deste ano. Espera-se um contingente de 40 atletas russos em Paris.
O presidente russo Vladimir Putin repete a história, informando que realizará os Jogos da Amizade da Rússia, criticados pelo COI, como sendo “de motivação puramente política” e uma violação da Carta Olímpica.
Todos os boicotes anteriores não foram de motivação política e violação à Carta Olímpica? Quais as punições?
Putin tem demonstrado, seguidas vezes, não se incomodar com bloqueios, restrições, cortes, admoestações, ameaças e nem qualquer coisa do gênero.
O COI, responsável pela gestão do esporte no mundo, demonstra não ter força nem competência para impedir coisa alguma, “joga para a torcida”, fala em jogada política, esquece a história e os últimos fatos e enfraquece.
Enquanto isso cresce a força política dos países asiáticos (que têm realizado um grande número de eventos internacionais) e da própria Russia para o domínio político do COI.
Situação perigosa para o esporte mundial.
É hora de Thomas Bach, presidente do COI, agir de forma mais enérgica. Ou, não fazer nada.
Declarações vagas são um boicote à inteligência.
#esporte #boicote #Russia #COI
Ricardo de Moura
Gestor esportivo com mais de 40 anos de experiência em Projetos Esportivos.
Supervisor/Superintendente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos por 28 anos.
Participou de 7 edições dos Jogos Olímpicos, 7 edições de Jogos Pan-americanos e 25 Campeonatos Mundiais. Responsável por projetos que levaram à conquista de 10 medalhas olímpicas na natação. Integrante do Comitê Técnico de Natação da Federação Internacional de Natação por 12 anos.
Secretário-tesoureiro da Confederação Sul-americana de Natação.
Professor do Curso Avançado de Gestão Esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro de 2009 a 2017.
Escritor do livro “Gotas Olímpicas” – 2022.
Divulgação ISE – Reprodução autorizada pelo autor
O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).